Grande penedo, que a natureza se encarregou, ao longo dos anos, de pôr a nu e bem à superfície da Terra. Ali mesmo no meio de um frondoso pinhal, com alguns carvalhos à mistura.
Chegámos a convencer-nos de que iriamos ter possibilidades de, da margem direita da ribeira, colher melhores imagens, puro engano, porquanto, a densa e alta vegetação quase não deixa ver o calhau da pala.
Ali colhemos imagens dos vestígios da presença humana, numa outra époda do ano, certamente no periodo estival, que dará bem para abrigar do tórrido calor.
Este castanheiro, já sem fruto, mas ainda com frondosa folhagem, revela que foi plantado em bom terreno.
Esta casa, que terá sido residência de moleiros, está condenada à total degradação.
Subimos a escadaria e chegámos mesmo à porta dos quartos, para vermos e ajuizarmos as condições em que por ali viviam os respectivos moradores. Nota-se que tinham ali o mínimo espaço para passar pelas brasas, como se diz em Beijós, que quer dizer "... dormir uns momentos". Em Cabanas de Viriato eu ouvi também uma frase que igualmente se usa em Beijós > "... dormir de repelão...". "Repelão" quer dizer "de repente" > "depressa"... > "dormir pouco".
Está tudo muito degradado. Os soalhos estão mesmo em ruínas, tivemos mesmo receio em os pisar.
Descemos ao rés-do-chão, local onde, paralelamente, funcionaram três mós, ao mesmo tempo.
As mós já foram retiradas. Encontrámos apenas os poisos onde elas assentaram.
Sobre os poisos das mós encontrámos um pedaço roliço de madeira, côncavo no meio e convexo em ambas as extremidades. Esta peça servia de apoio, para os moleiros manobrarem as mós, sempre que tinham que as picar. A parte móvel, designada por mó, tinha que ser voltada com a parte de baixo, para cima. Como a parte superior não é plana, aquela parte mais delgada do rolo de madeira, parte côncava, dava melhor apoio, à referida pedra.
"Picar as mós" > Quer dizer que, com o decorrer do tempo e com o roçar no poiso a rodar durante a moagem dos cereais, as mós vão gastando. As mós e os respectivos poisos não podem estar completamente lisos, porque têm tendencia em vidrar e não conseguem moer. Ambas as partes, para funcionarem bem e produzirem boa farinha, têm que ter muitas covinhas, que são feitas com um pico de pedreiro, muito afiado. Por isso, depois de algum tempo de uso, tinham que ser picadas, tinham ( e têm) que ser reavivadas essas covinhas, para melhor triturar os cereais.
Ainda podemos ver as quelhas e as moegas, ainda que muito degradadas, pelo tempo e pela falta de uso.
Aqui vemos tês tarraxas. Esta peça é idêntica àquelas que normalmente equipam os postigos das cubas ou dos tonéis do vinho.
Estas tarraxas estavam ligadas a um cabo,
(Aqui vemos ainda parte do referido cabo)
de metal ou madeira, passava, paralelamente, na vertical, ao corpo do Rodízio, e ia ligar a uma tranqueta, tronco de pinheiro assente no solo, no fundo do inferno,
(Inferno > local onde funcionava o rodízio)
em que assentava a parte inferior do referido rodízio. Assim, sempre que o moleiro tivesse necessidade de fazer a farinha mais fina ou mais grossa, bastava alargar ou apertar a tarraxa, para baixar ou levantar a respectiva mó.
O Rodízio, espécie de turbina idráulica tudo em madeira, constituido por corpo ou tronco, na vertical, e pás que formavam um circulo na parte inferior, na orizontal.
A água, que era dirigida, inclinadamente, em posição própria através de uma cale, normalmente em madeira, ia de encontro às pás e obrigava a que o conjunto rodasse.
A mó móvel, que assentava na parte superior do rodízio, com uma tranqueta de ferro, tinha que rodar com o respectivo rodízio.
Aqui vemos as portas do "Inferno", por onde saía a água que movia os rodízios e as respectivas mós.
Curiosamente, encontrámos esta cruz gravada numa rocha, mesmo a Norte do moínho que apresentámos. Qual será o significado?
>>>>> Pois bem... cumpre-nos aqui esclarecer de que, é habitual, naquela zona do País (Beijós e não só...), em locais rochosos, os limites das propriedades dos diversos consortes são assinalados com cruzes ou com "peténs"(nome que, em Beijós, designa um pequeno sucalco gravado na pedra) em vez dos marcos que habitualmente se usam em terrenos aráveis. Assim, cada cidadão ou grupo de cidadãos, sabem que a sua propriedade será para Norte e que para Sul será de outros.
Os acessos à ribeira, com a respectiva ponte.
Leito da Ribeira, com pouca água.
Depois de passar para a margem direita da ribeira, já nestes campos, fomos surpreendidos por uma matilha.
Perante as proximidades da casa
de arrumos do nosso Querido Amigo Norberto, concluimos que os cães seriam os vigilantes dos seus bens.
Não nos enganámos, porque, logo a seguir, nos cruzámos com ele que ia apascentar os seus rebanhos e levar os alimentos aos cães.
São vidas!
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MOLEIRO NOVO > Porquê esta designação?
- Um cidadão, proprietário de alguns terrenos naquela zona, nasceu na Aldeia do Penedo e casou em Cabanas de Viriato. Nesta Vila criou o seu espaço para fazer o troco da farinha pelo cereal. Quando começou a desenvolver a sua actividade em Cabanas de Viriato, não sendo conhecido, nem habitual, a população de Cabanas passou a designá-lo como "Moleiro Novo", porque já ali havia outros, mas este foi o que se instalou em último (era o mais novo). Este Moleiro residia sazonalmente naquele Bairro, onde moía os cereais com que negociava.