"- Gosto imenso de ti. - Sou teu amigo e quero estar contigo em todo o lado. - Apareci junto de tua casa, porque o"Fofo", tão pachorrento, sempre me acarinhou. Ele corre para ti e foi com ele que eu me aproximei. Vi que eras uma pessoa boa e que tinhas sempre um bolinho para me mimares. Depois, passaste a trazer-me um copo daquelas bolachitas que tanto gosto.
Inesperadamente, a minha companheira apareceu com uma matilha atrás dela, mas a natureza é assim, nada podia ou posso fazer. Mas, mesmo daqueles que me mordiam, para correrem comigo, passaram a ser teus amigos. Foi com grande admiração que eu notei que esses também caminhavam para ti, lambendo-te as mãos carinhosamente, tal qual eu sempre fiz.
Eu sei bem que, naquele Sábado, dia 4 de Julho de 2009, me portei mal, quando me atirei àqueles bonequinhos que, junto das donas, passeavam na Avenida Humberto Delgado, em Belas, quando te propunhas colher imagens dos ranchos que, então desfilavam. Eu vi que ficaste numa situação embaraçosa e, a partir daí, tens procurado afastar-me de ti. Não me mimas com as bolachitas.
Não te aproximas nem deixas que me aproxime de ti.
Não me fazes aqueles carinhos que outrora me deliciavam e que revelavam muita amizade, para comigo. Também não tive culpa que, quando eu e a minha companheira seguíamos o teu automóvel ela se tenha descuidado e deixou que a roda de trás lhe pisasse a pata. Eu bem vi que ficaste muito chateado, mas estas coisas também acontecem aos humanos. Quantos, inadvertidamente, se terão deixado pisar por rodas de automóveis?
Gosto tanto de ir contigo às caminhadas, mas tens evitado que eu te acompanhe. Estou a sentir-me só. O meu dono nada quer saber. Não me trata, nem me dá comida. Queria tanto ter a tua amizade e não consigo convencer-te que sou realmente teu amigo.
Não sei como recompensar aquele carinho que me tens dado.
Eu não tenho outra forma de te recompensar a não ser estar próximo de ti e seguir os teus passos.
Presto-te um serviço em troca. Acompanho-te e guardo-te.
Crê que estou disposto a estar sempre contigo, porque poderás precisar da minha ajuda, quando andas sozinho por aqueles pinhais.
Cada vez me sinto mais triste, porque não queria perder a tua amizade, apesar de me ralhares e não me quereres junto de ti, vês bem que eu vou seguindo de perto os teus passos.
Vou vendo como segues no teu caminho e quem é que de ti se aproxima.
Hoje, tive receio. Aquele pastor alemão da GNR tentou correr para mim, se não fosse o Guarda ele tinha-me dado uma tareia. Eu, apesar de ser contra a tua vontade, encostei-me às tuas pernas, quando paraste. Vi que olhaste para mim e viste-me a tremer.
Permitiste que eu te seguisse mais de perto, a partir dali, mas, pouco depois, me disseste que não me querias próximo.
Peço-te para seres tolerante para comigo.
Deixa-me ser teu amigo.
Olha que a vida de cão não é fácil!"
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