» Aquando da invasão do Antigo Estado Português da Índia (Goa, Damão e Diu), encontravam-se ali a prestar serviço militar os Nossos Queridos Amigos Beijosenses:
> JOAQUIM BERNARDO CARDOSO - natural e residente em Beijós;
> ARMANDO DOS SANTOS PINTO - natural e residente em Pardieiros > Beijós.
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» Joaquim Cardoso > Enquadrava o Batalhão de Engenharia, que partiu do BT da Graça - Lisboa;
» Armando Pinto > Enquadrava o Batalhão de Infantaria, que partiu do RI 5- Caldas da Rainha.
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Apurámos que da Aldeia Vizinha de Aguieira, então, também se encontrava na India o nosso Querido Amigo:
> ANTÓNIO SOUSA, natural da Aguieira e residente em Canas de Senhorim;
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A invasão daquele Estado, levada a cabo pelas tropas da União Indiana, ocorreu em 17-18.12.1961.
Todavia, cerca de um mês antes, as tropas Portuguesas já tinham conhecimento de que o país invasor se preparava para lançar a ofensiva.
Seguramente que, durante esse mês, as tropas Portuguesas tiveram oportunidade para se prepararem, quer psicologicamente quer logisticamente para resistir. Todavia, as poucas tropas que Portugal ali dispunha, cerca de 3.500 homens, mal equipados, não podiam resistir muito ao gigante invasor que atacou por terra, mar e ar, com mais de 50.000 homens.
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Breve descrição dos acontecimentos
" Nos dias 17/18 de Dezembro de 1961, durante a denominada Operação Vijaya, 50 000 tropas indianas apoiadas por blindados, artilharia, meios aéros (aviões de combate Canberra) e navais (1 porta-aviões) ocuparam militarmente Goa, Damão e Diu. Os 3500 militares portugueses e goeses tinham ordens de Salazar para lutar até à morte, sendo que o chefe-de-estado português comunicou que só esperava como resultado do combate "militares vitoriosos ou mortos". Contudo, o Governador Vassalo e Silva apercebeu-se da situação desesperada e perante o avanço dos indianos mandou recuar as forças e destruir todas as pontes e meios militares pelo caminho. Sem meios aéreos portugueses, a aviação indiana teve tarefa fácil ao destruir a torre de telecomunicações em Bambolim e a base militar em Dabolim. Pouco depois entravam em território de Goa, Damão e Diu as tropas da União Indiana, que ao contrário do que se esperava ainda se depararam com resistência de alguns militares portugueses, nomeadamente em Vasco da Gama, onde 500 militares fortemente armados obrigaram as forças indianas a combate. Também a fragata Afonso de Albuquerque entrou em combate à frente da barra de Mormugão, mas foi presa fácil para os modernos navios indianos que a afundaram. A destruição de pontes por parte dos portugueses fez também com que a ocupação total se tenha prolongado por mais de 2 dias, porque as tropas indianas não tinham meios para passar os rios de Mandovi (á frente de Pangim), e Zuari (a sul de Pondá). Como tal tiveram de pernoitar à espera de prosseguir em condições e para aceitarem a rendição das forças portuguesas em 19 de Dezembro de 1961."
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O QUE OS BEIJOSENSES VIRAM E VIVERAM:
Pelo que apurámos, apesar de as tropas Portuguesas serem em número reduzido e mal equipadas, resistiram contra o invasor, conforme puderam. A Engenharia destruiu parte das pontes por onde os Indianos tinham que passar.
Apesar de terem consciência de que não tinham capacidade de resistência, os militares portugueses fizeram frente ao invasor, cuja oposição teve como consequência o retardar, por dois dias, a tomada dos territórios e a consequente rendição das nossas tropas.
O Navio de Guerra Português "Afonso de Albuquerque" instalado no Porto de Mormugão, escudou-se por detrás de um navio de mercadorias Japonês, que se encontrava ali atracado para carregar minério, e daí resistiu e terá conseguido derrubar dois aviões de guerra indianos. Por tal motivo, o navio Japonês ainda foi alvejado pela artilharia indiana.
A guarnição do Navio de Guerra Português, quando viu que não era possível continuar a resistir, abandonou-o fugindo em lanchas para terra, e lançou-lhe o fogo aos respectivos paióis, para que nem o navio nem o material que transportava caissem na posse do invasor, cuja embarcação acabou por explodir, ficando seriamente danificada, cujo casco acabou por ser apreendido e rebocado pelos indianos, que o exibiram como troféu. Terá sido forte, então, o regozijo das tropas indianas, que, erradamente, tomaram a explosão da embarcação portuguesa, como consequência dos seus ataques.
Depois da rendição, os Militares Portugueses, desarmados, foram conduzidos para os
CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO DE:
> Pondá;
> Mapuçá;
> Aguada;
> Alperqueiros;
> Etc.
conforme os locais onde eram detidos. Nesses campos de concentração eram mantidos a bolachas, a água, a feijão frade cheio de carochos temperado com óleo em vez de azeite, e a pão mal cozido, únicos alimentos que lhes distribuiam.
À ESPERA....... DO FUZILAMENTO
Vigiados pelas topas indianas devidamente armadas, os militares Portugueses mentalizaram-se de que, com as armas apontadas contra eles, o seu destino seria o fuzilamento.
Perante as incertezas que se lhe depararam, muitos dos nossos militares tentavam evadir-se por qualquer meio daqueles campos de concentração. Muitos conseguiram fugir, num carro que passava, de vez em quando, para o Porto de Mar. Numa destas sagas Três militares Portugueses esconderam-se num contentor de lixo. Já iam no fundo do contentor a sair à porta do Campo de Concentração, a caminho da lixeira, quando o carro foi mandado parar pelas tropas indianas, que vistoriaram os contentores que o carro levava e espetaram ferros pelo lixo abaixo, para ferir os referidos militares. Dois deles conseguiram escapar, mas um foi detido. Vieram a saber que a fuga dos militares no contentor do lixo terá sido denunciada às tropas indianas, por um furriel Português.
A acção do furriel terá desencadeado um onda de protestos nas tropas Portuguesas que se encontravam no campo de concentração. Alguns militares juraram vingança contra o furriel.
Nessa sublevação, as tropas indianas endureceram a sua acção. Lançaram um ultimato aos que estiveram contra o furriel. Então, sugeriram que todos aqueles que estivessem contra aquele militar que saíssem da formatura e dessem um passo em frente.
ANJO PROTECTOR
Temos que realçar aqui a acção do Capitão Capelão JOAQUIM FERREIRA DA SILVA, único interlocutor, em inglês, com as tropas indianas.
À ordem para que aqueles que estivessem contra o furriel se manifestassem, para surpresa de todos e principalmente do Capelão, um militar mais arrojado deu um passo em frente, e, batendo com o punho no peito, exclamou "- que estava contra e que era ele mesmo que o matava". Esta conduta criou alguma expectativa, trouxe maior tristeza e abalou a pouca esperança que restava, quer ao Capelão, quer a todas as tropas portuguesas. Fez aumentar o receio do fuzilamento de todos os militares.
A acção da Capelão terá sido preponderante para resolução deste diferendo, acautelando o fuzilamento não só daquele soldado, como também de todos os outros, esclareceu as tropas indianas "que aquele soldado tinha dado o passo em frente, mas em defesa do furriel", cujo argumento foi aceite pelas tropas indianas, que aliviaram alguma pressão que exerciam sobre os portugueses.
O TEMPO E AS NOTÍCIAS
O cativeiro dos militares portugueses na Índia durou cerca de SEIS meses. Nesse espaço de tempo procuravam ouvir notícias das emissoras portuguesas.
Ouviram muita mentira, sem poderem esclarecer.
Entre as diversas notícias que eram difundidas na rádio portuguesa, constava que "nas valetas na índia corria um rio de sangue, dos militares portugueses, que foram todos mortos", cujo facto originou que muitas das suas famílias em Portugal se tivessem vestido de luto.
A ESPERANÇA
No entanto, entre as notícias más, houve um dia em que chegou uma notícia muito agradável, indicando uma data para a libertação de todos os militares portugueses presos. A partir do momento em que as tropas portuguesas tomaram conhecimento, a ansiedade foi tamanha que nunca mais ninguém dormiu nos aquartelamento do cativeiro.
A LIBERTAÇÃO
Chegou a data da libertação.
Logo que libertados, os militares portugueses tiveram que percorrer muitos quilómetros a pé. Por vezes, quando notavam que as botas lhes causavam ferimentos, tentaram em vão descalçar-se. Mesmo assim, com os pés a sangrar e com as botas cheias do vital líquido, a alegria do regresso a casa minorava e esquecia o sofrimento que jamais os conseguia fazer parar.
REGRESSO
O transporte dos militares portugueses foi feito, entre a Índia e o Paquistão, em Aviões civis Franceses, com tripulações compostas com enfermeiros também Franceses.
No Paquistão aguardavam-nos os Navios Portugueses que os transportaram para Portugal.
MATERIAL PORTUGUÊS.
Quer os carros quer as armas que as tropas portuguesas tinham na Índia tudo foi confiscado pelos indianos.
VIAGEM DE REGRESSO
Durante a viagem, os militares portugueses lançaram ao mar a velha farda que usaram.
CHEGADA (à Metrópole, como então se dizia) - A PORTUGAL
Não houve nenhum membro do Governo de então a recebê-los.
Notaram um desprezo total.
Naquela altura foram tratados como traidores da Pátria.
ROMAGEM AO TÚMULO DO SEU "ANJO DA GUARDA"
No dia 10 de Maio de 2008, todos os prisioneiros da Índia vão efectuar uma romagem a Póvoa de Varzim, ao túmulo do Capitão Capelão JOAQUIM FERREIRA DA SILVA.
Vão prestar-lhe sentida homenagem, em reconhecimento da sua acção naqueles momentos tão delicados das suas vidas.
ENCONTROS DE PRISIONEIROS
Um ano num, outro ano noutro local, os prisioneiros da Índia vão marcando a sua presença nos encontros Nacionais. Vão deixando o seu testemunho, para a posteridade, conforme fizeram com a lápide aqui reproduzida, que encontrámos um pouco escondida no Jardim do Cristo Rei, em Cabanas de Viriato.
NOVO ENCONTRO
No dia 23 de Maio de 2008, os militares de engenharia que estiveram detidos na India, na altura da invasão, vão encontrar-se em MARVÃO.
TRAUMAS PARA A VIDA
Qualquer sofrimento que o ser humano suporte, vai repercutir-se na sua saúde física e mental.
O sofrimento que tiveram no corpo, seguramente que afectou todos aqueles militares, não só no momento do cativeiro, mas também se terá repercutido pela vida fora.
As sequelas gravadas então, irão declarar-se com o decorrer dos anos.
A sua saúde terá ficado logo muito fragilizada.
Mas não será menos pesado o rótulo que lhes imprimiram "de traidores da Pátria". Isso os terá feito pensar durante o resto da sua vida. Terá sido mais uma facada na sua saúde, quando eles fizeram tudo, sacrificaram-se para defender a sua Pátria, no além mar.
Lutaram, sacrificaram-se e seguraram enquanto puderam aquele canto que era Portugal. De nada valeu e de nada valeria, mesmo que tivessem lutado até à morte, porque Portugal acabaria por perder aquele canto.
Por tudo isso, merecem todo o carinho dos Portugueses. É justo que Portugal lhe dispense o apoio que, agora, mais necessitem.
Em Beijoz, até ao Quebrar dos Púcaros ainda é FESTA!
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As festas na aldeia de Beijoz são quase sempre debaixo das Carvalhas
frondosas do Parque Arnaldo de Castro ao lado da antiga escola primária:
as Feirin...
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