25/01/09

DE BEIJÓS > A ANGOLA - 433º Anos da fundação da cidade de Luanda

Luanda foi fundada há 433 anos Jornal de AngolaImprimirE-mail
Fonte: Jornal de Angola - Editado por AD   
Monday, 26 January 2009
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> Luanda 
A população de Luanda celebrou este domingo o 433.º aniversário da fundação da cidade. 
A sua história secular está associada aos musseques, que são bairros pobres, de casas 
construídas à base de madeira ou pau e barro, habitadas por gente humilde.
Artur Pestana “Pepetela”, antigo docente da cadeira de Sociologia Urbana, 
na Faculdade de Arquitectura, da Universidade Agostinho Neto, explicou ao 
jornal de Angola a origem dos musseques. Falou dos comerciantes portugueses que neles habitavam, também 
conhecidos por “fubeiros” e sobre o racismo na antiga Luanda. 
“O Bairro Operário não nasce como musseque. Foi o primeiro bairro urbanizado 
em Luanda, construído pela Câmara”, revelou. Segundo o académico, os musseques surgiram no tempo colonial, 
por volta do século XIX. O termo quer dizer “areia vermelha”, 
mas do ponto de vista sociológico mostrava a exclusão social, 
fundamentalmente da população africana em relação ao centro da cidade.
Nessa altura, Luanda era composta essencialmente pela Cidade Alta,
desde a Fortaleza de S. Miguel ao Hospital Josina Machel.
Nesse corredor estavam instituições do governo, igrejas e casas de 
funcionários superiores da administração colonial. A Cidade Alta era uma 
zona habitada pelo poder político, militar e religioso. A Cidade Baixa compreendia a zona dos Coqueiros, passando 
pela Baía até à Estação do Bungo, isto ainda no século XIX. E é nesta 
época que quase tudo começa em relação aos musseques.
Aproveitando-se de uma epidemia que houve na cidade entre 
1870 e 1880, o governo decretou o derrube de uma série de cubatas
que existiam no Bairro dos Coqueiros. Artur Pestana “Pepetela” 
diz que não consegue precisar se a peste se tratava de surto 
de cólera ou outra doença. Na época da escravatura os donos de escravos mantinham-nos 
próximos de si, nos quintais de suas casas, para melhor controlarem
os trabalhos forçados. Terminado o regime de escravatura já não 
era necessário que os antigos escravos continuassem a morar 
perto dos antigos donos. Mas muitas cubatas continuavam a existir.
O pretexto encontrado para acabar com elas foi a epidemia. Diziam 
que a peste provinha das cubatas que albergavam escravos nos 
Coqueiros. Assim, parte das cubatas foram queimadas e a população 
que nelas residia foi obrigada a subir para a zona acima da Igreja do 
Carmo, que era o limite da cidade.
“Cria-se então o Bairro da Ingombota, que é o primeiro musseque de Luanda. 
Foi nessa altura, pela primeira vez, que uma parte da população foi empurrada 
para a periferia, onde até existiam animais ferozes como leões”, 
esclarece o sociólogo. Foi nesta altura que apareceu o termo musseque, onde 
passaram a residir aqueles que eram os marginalizados da sociedade colonial.
No século XX, mais propriamente em 1922, é aberta a Rua Brito Godins 
(Avenida Lenine), que sai do Largo do Kinaxixi, passa pela escola 
 Mutu-ya-Kevela, antigo Liceu Salvador Correia e termina na Maianga.
Esta rua passou a ser a fronteira entre a cidade e o musseque. 
 Artur Pestana diz que nessa época a Ingombota passa a estar 
integrada na cidade. O Maculusso era musseque. Havia nessa zona, 
até 1940, o musseque Braga, onde hoje é o Mutu-ya-Kevela e o chamado 
bairro do Café.
Os bairros periféricos eram chamados musseques, independentemente do tipo 
de construção. Geralmente, eram erguidos à base de areia vermelha com ramos de
palmeira entrelaçados. A última fronteira do tempo colonial é a Rua Senado
da Câmara, que aglomera  a conhecida vala de drenagem da Cidadela 
Desportiva e vai até às barrocas da Boavista.  “Estamos no ano de 1950. 
Na altura, começa-se a construir o Bairro Popular, mas não 
como musseque”. Nível de vida fonte de racismo O sociólogo Artur Pestana afirma que nunca houve uma discriminação
racial absoluta na era colonial. Tratava-se, sim, de uma discriminação de
classes, sobretudo nos rendimentos. Havia famílias africanas que
viviam na cidade e europeus que residiam nos musseques, sobretudo 
os comerciantes. “Não era como na África do Sul, onde o apartheid 
incidia o seu peso na raça da pessoa”.
Prova disso, diz, é o caso dos comerciantes portugueses que viviam nos
musseques, cujas lojas eram compartimentos da casa que habitavam e eram 
apelidados de fubeiros, porque vendiam fuba, um termo na época ofensivo,
abusivo, humilhante. “Teu pai é fubeiro”, é assim que muitos filhos de 
comerciantes eram insultados.
Alguns comerciantes, diz Artur Pestana, podiam até acumular certa riqueza 
em função dos rendimentos das lojas, mas por residirem nos musseques 
em conjunto com populações africanas eram considerados pobres. “Mas, repito, 
não era um apartheid. Era uma discriminação, condições de vida, cultura, como 
o acesso à escola”. Artur Pestana lembra que Mário António de Oliveira, um grande estudioso da 
Luanda do século XIX, fez um estudo sobre a cidade. Conseguiu 
estatísticas das suas escolas e mostra que a maioria dos alunos eram 
mestiços ou negros, ao passo que a minoria era branca.
A situação inverteu-se no século XX. “Já era uma fase diferente”, 
diz o sociólogo. A proporção de brancos era cada vez maior em
relação aos negros. “Não era uma situação oficial, mas era mais 
difícil, porque se criavam certas dificuldades afastando os africanos 
do centro para a periferia onde havia poucas escolas”.
Em termos de percentagem de crianças em idade escolar e na escola, 
há um decréscimo no século XX em relação ao XIX, relativo às crianças
negras e mestiças. “Os dados, as estatísticas existem e estão aí...”.
No princípio do século XX, mais precisamente em 1910, quando foi instaurada a 
República em Portugal, aumentou a discriminação racial em Angola, mas devia 
ser o contrário, afirma o sociólogo. O problema não residia no regime em Portugal, 
mas no colonialismo, afirma. “Só mais tarde se percebeu que se devia atacar o 
sistema colonial”.
Última Actualização ( Monday, 26 January 2009 )

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